Na Praça da Matriz, nos bancos, nos supermercados e na rua, o assunto é o mesmo em Iracemápolis: o reconhecimento mundial da cidade através do gol decisivo do iracemapolense Elano, 29 anos, no jogo de estreia contra a Coreia do Norte. "Tinha gente que nem sabia que Iracemápolis existia. Quem já tinha ouvido falar, pensava que aqui era lugar só de cortar cana", comenta a dona-de-casa Adriana Capobianco, 35 anos, moradora do Jardim Iracema, mesmo bairro em que o jogador passou a infância. O sentimento, segundo ela, se resume ao orgulho de morar em Iracemápolis. "O Galvão Bueno falou o nome da nossa cidade lá na África. O mundo sabe que nós existimos".
A técnica em enfermagem Gabriela Silva, 28, moradora do Parque Cesarino Borba, lembra de Elano Blumer no período escolar, quando estudou com ele na quinta série na escola Professor Antonio Cândido de Camargo. "A paixão dele nunca foi pelos livros. Foi sempre pela bola. A imagem que tenho dele é na quadra jogando bola. Era um garoto sapeca", conta. Gabriela está tão orgulhosa de morar na cidade que não sabe como explicar a sensação que teve quando o nome do município foi enaltecido durante a partida de estreia. "Não tem explicação".
O motorista Valentin Salatti, 49, se orgulha em lembrar da carreira de Elano no Guarani e de ter o autor do segundo gol da estreia como conterrâneo. "Tem cidades que são reconhecidas mundialmente por crimes, escândalos. Com Iracemápolis foi diferente". Nem o placar apertado de 2 a 1 tirou a alegria de Salatti, que engrossa o discurso de que importante mesmo é a vitória. "Não é que a seleção brasileira jogou pouco. Os adversários estão se aperfeiçoando", opina.
É com o mesmo otimismo que o prefeito Fábio Zuza (PSDB) declara que além de representar a seleção brasileira, Elano representa a cidade para o mundo. "É fruto da nossa terra". O chefe do Executivo também lembra que o município cultiva novas sementes através da escolinhas de base de futebol, mantidas pela Prefeitura.
Segundo o diretor de Esportes, Enyo Correa, o projeto atende 160 crianças e adolescentes com idades entre 8 e 15 anos. Os treinamentos são sempre em áreas públicas e, além de despertar novos talentos, a iniciativa tem, acima de tudo, o cunho social. "Se a criança que treina aqui hoje trabalhar numa empresa amanhã, saberá respeitar regras e limites. Serão melhores cidadãos certamente. Além disso, estamos prevenindo problemas de saúde e de segurança pública no futuro", declara.
E é de olho no futuro que as crianças treinam ainda mais animadas com a repercussão da cidade na Copa. Bismark Geraldo da Silva, 9 anos, é meia esquerda como Elano e treina há dois anos e meio para ser um jogador da seleção. "Esse é meu sonho. Também quero que minha cidade se orgulhe de mim", conta o torcedor do São Paulo, morador do Jardim Luis Ometto.
Pai se emociona ao falar de Elano"Deus me deu mais do que mereço. É difícil até passar para as pessoas o que sinto. Sou privilegiado", comemora o pai de Elano, Geraldo Blumer, 56 anos, "seu Gera", como é conhecido. Ele driblou o assédio da imprensa com simplicidade e bom humor típicos de quem tem as origens arraigadas mesmo com o reconhecimento mundial do talento do filho. Seu Gera fica mais sério na hora que toca o Hino Nacional, momente que, segundo ele, passa um fime pela cabeça. "Fui cortador de cana. Me lembro das dificuldades que passamos".
Seu ritual antes da partida é ler um versículo da bíblia acompanhado de pedido de sabedoria e, durante o jogo, a preferência é assistir sozinho porque se concentra melhor. Sobre o medo do avião noticiado pelo narrador Galvão Bueno, ele também tem boas justificativas. "Prefiro não arriscar. É como ir a praia. Não preciso ficar no fundo do mar para me arriscar", explica. Além disso, ele diz que assistir o jogo em casa é melhor para o próprio Elano, que tem uma preocupação a menos.
Orgulhoso do filho, ele lembra que Elano começou a carreira aos 16 anos no Guarani, passou pela Internacional de Limeira e teve o grande momento de ascensão em 2002, quando conquistou o título brasileiro com o Santos. Depois, o iracemapolense foi para o exterior, jogar na Ucrânia e atualmente na Turquia. A recordação do pai orgulhoso mescla com uma imagem mais remota, de um Elano travesso na infância, período em que os cadernos não eram muito a preferência do jogador, mas sim a bola.
Seu Gera muda o tom quando avalia o resultado do jogo de estreia. Mais sério, afirma que o placar serve de alerta. "Sou crítico. Foi um resultado de alerta para não nos acomodarmos. Neste aspecto foi bom". Foi essa mensagem que ele deu ao filho durante a madrugada (no Brasil) após o jogo. Na lista de aconselhamentos a Elano, também não faltam pedidos de cuidados com a saúde. "A boa saúde é a ferramenta de trabalho dele. Não gosto nem que ele ande de moto para não se arriscar".
Longe de polêmicas, seu Gera não criticou a substituição do filho no segundo tempo, mas reforçou que, o minuto antes sair de campo, Elano foi decisivo para a seleção canarinho confirmar a vitória. Para o próximo jogo domingo, contra Costa do Marfim, o pai arrisca 2 a 1 de palpite e manda um recado para a torcida brasileira. "Acreditem nas pessoas, mas na Copa há 32 seleções e uma será campeã. É o que todos os participantes querem".
*** Matéria Erica Samara da Silva - Gazeta de Limeira
*** Fotos JB Anthero