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quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Que dia triste


Um dos dias mais tristes para nosso esporte. A queda do avião que levava a delegação da Chapecoense para Medellin para a final da Copa Sul-Americana contra o Atlético Nacional causou uma enorme comoção. Um grande vazio em todos nós. Parece que perdemos parentes queridos.

A Chapecoense vivia o melhor momento de sua história. Era um time disciplinado, bem comandado por Caio Júnior e admirado por todos. Fez um Brasileirão que serviu para mantê-la na elite e chegou com méritos a final da Copa Sul-Americana. A Chapecoense nunca caiu em sua história.

Confesso, foi difícil trabalhar. Foi difícil escrever essa coluna. Fiquei mais de sete horas no sofá do meu apartamento acompanhando tudo, em todos os canais. E sempre na torcida para que mais sobreviventes pudessem ser encontrados.

Os rio-clarenses ficaram ainda mais tristes, pois um dos mortos vestiu a camisa do Rio Claro FC. O atacante Thiaguinho estava vivendo um momento mágico. E tinha acabado de receber a notícia que seria papai pela primeira vez. O vídeo na internet emociona. Eu chorei muito ao ver.

E o que se falar do goleiro Danilo então, principal expoente dessa equipe? Claro que a vontade é de Deus, mas se aquela bola do San Lorenzo não fosse evitada de forma milagrosa pelo arqueiro aos 47 minutos do segundo tempo em Chapecó pelas semifinais, nada disso teria acontecido. Mas esse é o destino.

Entre os mortos está o maior goleador da história da Chapecoense: Bruno Rangel, de 34 anos, autor de 81 gols pela equipe alviverde. Jogadores marcantes perderam a vida como Ananias (autor do primeiro gol do Allianz Parque), Cleber Santana (várias vezes campeão), Kempes, entre outros.

Jogadores que vinham se destacando nesta temporada, como o zagueiro Thyego, os laterais Gimenez e Denner Assunção, o bom marcador Gil, enfim, vidas que foram ceifadas por esse trágico acidente aéreo.

E os jogadores que não foram relacionados e não viajaram, casos de Cláudio Winck, lateral e Martinuccio meia. O Instituto Médico da Colômbia acredita que a demora para o reconhecimento dos corpos seja de até três dias.

Da imprensa perdemos gente importante, como o narrador Deva Pascovicci, como o brilhante comentarista Mário Sérgio Pontes de Paiva e com profissionais competentes como Victorino Chermont, PJ, entre outros.
Bonito demais as mensagens de apoio de jogadores, ex-jogadores, dos times brasileiros e principalmente dos times mais famosos do mundo, como Barcelona e Real Madrid.

Que Deus possa confortar todas essas famílias. Que todas as homenagens possíveis possam ser feitas. Esse time tem que virar filme, livro, enfim, jamais deve ser esquecido. São verdadeiros heróis.

Bonita a atitude do Atlético Nacional de oferecer o título a Chapecoense. Da CBF que transferiu a final da Copa do Brasil para a outra quarta-feira e que suspendeu a rodada de fim de semana do Brasileirão, passando-a para o dia 11.

Estudam dar uma vaga a Chapecoense na Taça Libertadores de 2017. De que o time de Chapecó não caia nos próximos três anos do Brasileirão.

A melhor reflexão que li sobre o tragédia foi escrita por Arthur Crispin. É alguém que não conheço, mas seu texto foi brilhante. Faço questão de encerrar a coluna com ele:

“Costumo dizer que futebol é metáfora da vida e talvez por isso esse lance com a Chapecoense me deixa tão triste. Porque, por mais que torçamos pra Flamengo, Corinthians, Vasco, Palmeiras, Santos e outros grandes times, na vida a gente é mesmo uma Chapecoense. A gente sonha, luta, batalha, joga fechadinho na defesa, aguenta pressão no trabalho, salva bola em cima da linha no último minuto e quer ser campeão de algo, vibrar com a felicidade, alçar vôos altos. A gente é Chapecoense na vida porque, por mais que algumas vezes queira e em outras se sinta impotente, está lá, sempre na peleja. Nem sempre com torcida a favor, às vezes com o estádio da vida lotado, tentando virar o jogo fora de casa, mas estamos lá, buscando nossa realização, nosso conto de fadas. A gente adotou a Chapecoense porque ela é gente da gente. Com essa queda, a gente vê como se importa com bobagem, como perde energia com coisas pequenas, inclusive por aqui. Como a gente se demora em questões que não geram amor. “Donde no puedas amar, no te demores”. Já que vamos seguir na vida, é preciso ser mais Chapecoense. Se encontrar mais, sorrir mais, discordar quando for necessário, mas se respeitar mais. Cultivar os afetos, deixar os desafetos pra lá, nos livrar das âncoras e seguir com as velas. É preciso seguir, é preciso soprar. Vamo, vamo, Chape. Na metáfora dessa vida, jogo de futebol eterno, Chape somos nós.”

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