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domingo, 8 de março de 2015
Marinez Moraes, torcedora número 1 da Inter ainda frequenta os jogos no Limeirão
Neste Dia Internacional da Mulher faremos uma justa homenagem a Marinez Fronza Moraes, a torcedora símbolo da Associação Atlética Internacional. Ela mesmo gosta de carregar o título de "torcedora número 1 do Leão".
Filha de Antônio Fronza e Fernandes Fronza, Marinez nasceu em Limeira no dia 14/05/1945. Uma família de sete irmão: José, Beatriz, Aldo, Suzi, Antônio Carlos, Maria Izabel e a nossa homenageada.
Estudou no Grupo Prada e tinha como companheiro de sala de aula o saudoso João Ferraz. Seu primeiro emprego foi na tecelagem da Prada. Casou-se com o ex-goleiro Moraes, do próprio alvinegro, em 01/04/1964 e tem três filhos: Rosana, Marco e Mary.
A história desta guerreira poderia muito bem se transformar em um livro. Quanta dedicação e amor ao clube. Que exemplo de persistência. Marinez deveria receber o título vitalício de "Embaixadora da Internacional", pois dificilmente perde um jogo de seu time do coração e faz questão de demonstrar todo esse amor e fanatismo.
Como nasceu seu amor pela Internacional?
Marinez - Começou muito cedo. Um dos responsáveis foi o jogador Ardeu, um dos meus melhores amigos. Fazia questão de vê-lo jogar. Não perdia um jogo sequer. Com o tempo fui conhecendo os outros jogadores, o Ladeira, Gury, Pitico, Bimbo e principalmente o Moraes, que tempos depois viria a ser meu marido e pai dos meus filhos.
Quem te apresentou o Moraes?
Marinez - Foi o próprio Ardeu. Ele morava junto com o Bimbo no Hotel São Paulo. Foi amor a primeira vista. Me lembro que frequentava os jogos na companhia da minha amiga Marla. Bons tempos aqueles.
E quando a Inter parou em 1967, como foi para você?
Marinez - Foi um dos momentos mais tristes para mim. Ficamos sem futebol de 1967 a 1975. Parecia uma eternidade. Porém o amor pelo clube continuava, independente da situação. Outras tristezas foram as mortes do Alemão, Zezinho Figueiroa, Simões, Ademir Mello e do João Ferraz.
E quando o Leão retornou em 1975, como foi?
Marinez - A Inter agregou novamente uma grande torcida. Todos estavam com saudades de ver a Veterana em campo. Foi então que decidi organizar a primeira torcida feminina da Internacional. O Guti comandava a torcida Coração da Inter. Eu e a esposa dele, Terezinha Elias combinamos de formar a torcida feminina, uma vez que muita mulheres frequentavam os jogos. Fizemos a Fiel da Inter.
E como foi a aceitação?
Marinez - A aceitação foi tão grande, que a nossa torcida chegou a reunir 56 mulheres. Não vou me lembrar de todas elas, mas as mais atuantes eram a Nega, Geni, Meire, Cleusa, Rose, Arcélia, Tatica, Dalva, Shirlei, Carmela e Ângela. Ai que saudade que eu tenho desse tempo.
Como vocês se organizavam?
Marinez - Nos reuníamos em casa sempre nas vésperas das partidas. Tinha uma lotérica cujo dono era o amigo Gabriel. Ele guardava os volantes de apostas que sobravam. Durante a madrugada a gente picava todos eles para jogar para o alto quando a Inter entrasse em campo ou quando marcasse um gol. Todo mundo colaborava. Ninguém tinha preguiça, pois nosso amor pelo Leão falava mais alto. A gente até chamava um taxi para levar os enormes sacos de papéis picados para o estádio. Tudo era festa.
Como era o relacionamento da torcida feminina com os jogadores?
Marinez - A gente fazia questão de dar flores aos jogadores. O João Ferraz não gostava muito, pois sempre achava que sua esposa ficaria brava. Adorava dar flores para o Jorge Cruz, Tião Marino, Ademir Mello, Simões, Bauer e o Bolívar. Outro serião era o Alexandre Pimenta. Ele não gostava desse assédio. A gente entendia e respeitava.
Quem era o mais galã?
Marinez - Sem dúvida o Jorge Cruz. Minha amiga Cleusa suspirava por causa dele. Era um negro maravilhoso, além de bom jogador. O problema é que ele era casado (sorriu). Já o Benê prometeu um gol para mim em um dérbi. Ele cumpriu. Foi pena para tudo que era lado.
Você tinha apoio financeiro para tocar a torcida?
Marinez - Para arrecadar dinheiro para fazer nosso uniforme a gente fazia tarde de doces e salgados na nossa sede na Henrique Marques. O empresário Alan Cruañes nos ajudou bastante também. Ele até financiou nossa primeira viagem de ônibus, que foi para São José dos Campos. Nos jogos em Limeira a gente não pagava ingresso, pois o Jairo Oliveira e o Sérgio Batistella faziam questão de não cobrar.
E o famoso caso Simões, como foi?
Marinez - Foi engraçado. O técnico Airton Diogo sempre escalava o Nestor e eu não concordava. Mandei uma carta para o Osvaldo Davoli na rádio pedindo a escalação do Simões. Depois da polêmica, o técnico acatou minha sugestão e o Simões não saiu mais do time. O Elzo, ex-seleção brasileira, sempre brincava com os demais jogadores do elenco. Ele falava que quem não estivesse satisfeito era para me procurar que eu mandava carta na rádio. Isso durou um bom tempo.
Vocês nunca brigaram nos estádios?
Marinez - Enfrentamos algumas turbulências sim senhor. Na nossa torcida tinha a Tatica. Era um verdadeiro armário. Para se ter uma base, ela quebrava o conduíte das bandeiras na perna e distribuía cacetada nos homens que se aproximavam. Ninguém chegava perto. Em Guaratinguetá uma vez, quebraram os nossos ônibus. Tivemos que voltar com a delegação. Em Santo André o pau torou em um restaurante. Foi todo mundo para a delegacia e não vimos o jogo. Mesmo assim, nunca vi uma integrante da nossa torcida ferida. Menos mal.
Você não estava na batalha de Pinhal?
Marinez - Graças a Deus não. Estava grávida de oito meses da Mary. Acho que foi uma das poucas partidas que não assisti. Ainda bem. Curiosamente, minha filha nasceu no primeiro jogo da Inter na 1ª Divisão. O Moraes não viu, pois estava no campo com o Alan Cruãnes.
E a rivalidade com o Independente?
Marinez - O eterno presidente Álvaro Zanebom não saía da minha casa. Ele queria contratar de tudo que era jeito o Moraes. Enquadrei meu marido e disse que ele tinha que optar entre o casamento e jogar no Galo. Claro que ele preferiu ficar comigo.
Tinha algum torcedor do Independente que lhe irritava?
Marinez - Tinham dois vizinhos galistas insuportáveis. Teve um dérbi que a Inter perdeu no Pradão por 1 a 0 e os dois ficaram me esperando em cima de um muro, do lado de casa. Eu estava uniformizada e quase chorando pela derrota. Um deles me ofereceu uma pinga. Na hora o sangue subiu e eu retruquei. Disse que leonino só tomava wisky. Demorei para engolir aquela gozação, ainda mais após um dérbi.
Quando a torcida feminina chegou ao fim?
Marinez - Dá até tristeza só de lembrar. Paramos exatamente em 1985, um ano antes da conquista do título paulista em cima do Palmeiras. Aos poucos nossa torcida foi diminuindo. Muitas se casaram e constituíram família. Algumas, os namorados proibiam de ir ao estádio em razão do ciúme. Outras mudaram de cidade.
E na final de 1986, você foi?
Marinez - Claro que sim. Não perderia esse jogo em hipótese nenhuma. Alugamos um ônibus só para casais. Fui na companhia do Moraes. Foi um dia inesquecível, memorável, mágico, enfim, tudo de bom. Depois do nascimento dos meus filhos foi a maior emoção de que senti. Eu fui muito otimista ao Morumbi. Tinha certeza que voltaríamos com o título.
O que você guarda na lembrança desse tempo?
Marinez - Muita coisa. Contra o Independente a gente levava até pena no estádio para provocar o rival. O Taubaté tinha a torcida mais legal. A gente recebia flores nos jogos. Trocávamos até correspondências. Se pudesse eu faria exatamente tudo de novo. Uma pena as torcidas Coração da Inter, Torcida dos 40 e a minha deixarem de existir. Incentivávamos muito a Internacional.
Até hoje você frequenta o Limeirão?
Marinez - Dificilmente perco um jogo da Internacional no Limeirão. Sou mesmo a torcedora número 1, indiscutivelmente. Se um dia o Leão encerrar suas atividades não torcerei para mais ninguém, nem para a seleção brasileira.
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