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quinta-feira, 28 de janeiro de 2016
Limeirense Odair dos Santos sonha com ouro olímpico no Rio de Janeiro
Um Odair dos Santos sorridente e muito confiante. O atleta de Limeira sonha em subir no lugar mais alto do pódio nos Jogos Paralímpicos do Rio de Janeiro este ano. Para isso, intensificou os treinamentos.
Odair disputará duas provas no Rio, os 1.500 e os 5 mil metros.
"Posso ganhar duas medalhas, mas os 5 mil é a minha maior esperança. Sonho com esse ouro e faz tempo. Pretendo completar a prova em 15min10. Já consegui fazer 14min41 na T12. Se correr abaixo dos 15 minutos estarei muito satisfeito e posso bater inclusive o recorde mundial. Nos 1.500 preciso fazer abaixo dos 4 minutos. Se depender de vontade e disposição, acredito que posso dar essa alegria ao meu país", confidenciou.
Odair elogiou o desempenho dos africanos, seus maiores e mais temidos adversários. "Eles são especialistas nas provas de fundo. Os quenianos, os etíopes e os marroquinos sempre representam perigo para nós sul-americanos. É por isso, que preciso estar muito preparado, pois sei que não será nada fácil", frisou.
O limeirense embarca para a Colômbia no próximo dia 30 para realizar um treinamento na altitude. "Serão 35 dias de muita preparação e foco. Até julho participarei de algumas provas no Brasil. Em seguida devo viajar novamente, mas ainda não definimos o país, provavelmente algum que tenha altitude. Tudo faz parte de um cronograma para conquistarmos uma medalha diante da nossa torcida, em casa", comentou.
Em razão da falta de uma pista de atletismo oficial em Limeira, Odair dos Santos precisa viajar para Piracicaba e Campinas para treinar. "Nossa cidade tem grandes corredores, mas carece de uma pista, infelizmente", completou.
Pingue-Pongue com Odair dos Santos
Gazeta - Quando e como você chegou em Limeira?
Odair - Nasci em Osvaldo Cruz e com seis meses de vida fui para Adamantina. Minha irmã se casou e foi morar em Suzano, mas meu cunhado infelizmente faleceu. Como tínhamos tios em Limeira, ela veio para cá morar. Ela não quiria retornar para Adamantina para não ficar lembrando a todo momento do marido. Minha família ficou sensibilizada com essa situação e para não deixar ela sozinha, viemos todos para Limeira. Foi a melhor coisa que fizemos.
Gazeta - Quando você começou a ter dificuldade para enxergar?
Odair - Até os 9 anos eu enxergava normalmente. Foi no ensino fundamental que comecei a ter dificuldade em acompanhar a professora. Precisava me levantar a todo momento da carteira para se aproximar da lousa para ler o que estava escrito. Percebendo isso, a professora convocou meus pais para uma reunião e pediu para que eles procurassem um especialista.
Gazeta - Como o médico informou que você ficaria cego?
Odair - Meus pais procuraram um especialista e após alguns exames, foi constatado que eu era portador de retinose pigmentar degenerativa, ou seja, ficaria cego inevitavelmente. O médico informou minha mãe que até os 20 anos eu não enxergaria mais. Não entrei na sala e fiquei aguardando do lado de fora. Quando minha mãe se aproximou, notei que ela estava chorando e sem ação. Foi um momento muito difícil para todos nós.
Gazeta - Como você lidou com essa situação?
Odair - Na época eu não entendia muito bem. Eu ficava mais triste por ver meus pais abalados do que propriamente saber que ficaria cego. É uma doença que infelizmente não tem cura. Existem estudos avançados e quem sabe no futuro alguém descubra a cura.
Gazeta - Em 2009 você começou a perder a visão por completo?
Odair - Foi o maior estágio da doença. Até então eu corria na Classe T12, correspondente a baixa visão e sem a ajuda de um guia. Em 2009 fui reclassificado para T11, ou seja, cego total e necessitando do auxílio de guias para competir.
Gazeta - No início você trocou o futebol pelo atletismo?
Odair - Toda criança que se preze começa no futebol e comigo não foi diferente. Era até um bom atacante, pois corria demais. Tinha 10 anos quando passei a me interessar pelo atletismo. Me inspirava no meu tio Valdevino Ferreira dos Santos. Ele era minha grande referência, meu espelho. Queria ser igual a ele e por isso passei a treinar.
Gazeta - Como foi seu início no atletismo?
Odair - Tinha um professor de educação física na minha escola chamado Rômulo. Teve uma gincana para que novos talentos fossem descobertos. Me inscrevi, pois vi que ali era uma boa chance para começar. Não deu outra. Fui bem e por isso, o professor me convidou para treinar atletismo.
Gazeta - Você lembra da sua primeira prova?
Odair - Com certeza. Foi em Tupã, numa prova de 800 metros, na rua. Tinha 11 anos e cheguei em nono. Ganhei uma medalha, pois existia premiação até o 10º lugar. Não tirava a medalha do pescoço de jeito nenhum. Chegava a dormir com ela. De tanto que usei, a correntinha estourou. Chorei muito nesse dia.
Gazeta - E a primeira vitória, se lembra?
Odair - Claro. Foi no 1º Troféu Adamantina de Atletismo. Tinha 12 anos e completei os 4 km em primeiro lugar. Naquele momento eu tive a certeza que nasci para a modalidade.
Gazeta - E quando você mudou para Limeira, como foram seus primeiros passos?
Odair - Meu objetivo era continuar praticando o atletismo. Me indicaram o professor José Carlos da Silva, o Fumaça, na pista do TG. Em 2003, precisei procurar um escola para me auxiliar, de preferência que tivesse braille. Passei a frequentar o João Fischer, local onde conheci o professor Fábio Breda, que foi fundamental em minha carreira.
Gazeta - Constituir uma família te fez crescer ainda mais?
Odair - Sem dúvida. Minha esposa Andréia Santos me apoia demais. Estamos juntos há 11 anos e temos duas filhas maravilhosas, a Julia Antonella de 4 anos e a Milena Stefani de 2. Vou incentivas as duas a praticar esporte. A mais velha sabe que o papai dela é famoso e que passa na televisão. Em Toronto por exemplo, minha esposa me mandou uma mensagem da Julia que me incentivava a ganhar. Chorei muito e minhas forças dobraram para a prova. Agradeço a Deus pela família que tenho.
Gazeta - Você passou mal no Mundial do Qatar no ano passado?
Odair - Foi o pior dia da minha vida, sem dúvida. Achei que ia morrer. Sofri hipertermia em razão do forte calor de 35 graus. Eu liderava a prova com folga quando entrei em colapso na final dos 5.000m. Sofri três quedas na pista e precisei ser carregado pelo guia Carlos Antonio dos Santos até a linha de chegada. Não tinha condições de andar e falar e fui direto para o departamento médico.
Gazeta - Qual será a sensação de conduzir a tocha olímpica?
Odair - Uma emoção inigualável. Você não tem ideia de como é ser escolhido para levar a tocha olímpica. Uma sensação única. Estarei dividindo essa função com grandes atletas, como o nadador Guilherme Guido, meu eterno professor Fumaça e o ex-jogador Lê. Sairemos do Limeirão no dia 20 de julho e percorreremos as ruas de Limeira até o Parque Cidade. Será impossível não se emocionar no trajeto.
Gazeta - Para finalizar, quem te apoia?
Odair - A Unimed, a AMUL que está comigo desde o início e a Einstein, faculdade em que me formei em educação física. Também gostaria de agradecer o meus guias Carlos, que me acompanha desde 2009 e o Erinton Aquino, que é de Fortaleza. Eles são fundamentais na minha carreira.
Medalhas de Odair dos Santos:
2003 - Parapan de Mar Del Plata, na Argentina - ouro nos 800m, 1.500m e 5.000m
2004 - Paralimpíada de Atenas, na Grécia - prata nos 1.500m e 5.000m e bronze nos 800m
2006 - Mundial da Holanda - ouro nos 1.500m com direito a recorde mundial na Classe T12 (3'50), prata nos 800m e bronze no revezamento
2007 - Parapan do Rio de Janeiro - ouro nos 1.500m, 5.000m e 10.000m
2008 - Paralimpíada de Pequim, na China - bronze nos 800m, 5.000m e 10.000m
2011 - Mundial da Nova Zelândia - ouro nos 1.500m, 5.000m e 10.000m
2011 - Parapan de Guadalajara, no México - ouro nos 1.500m e 5.000m
2012 - Paralimpíada de Londres, na Inglaterra - prata nos 1.500m
2013 - Mundial de Lyon, na França - ouro nos 800m, 1.500m e 5.000m
2015 - Mundial do Qatar - ouro nos 1.500m
2015 - Parapan de Toronto, no Canadá - ouro nos 1.500m
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